quinta-feira, 4 de setembro de 2008

E no Transporte Coletivo...

Existem coisas que só acontecem no Transcol. E eu já deveria estar acostumada , afinal lá se vão alguns anos como passageira.... mas o fato é que me parece que ainda não estou preparada pra enfrentar as situações que me aparecem...

Dia desses, na volta pra casa (na verdade, pro curso de inglês), uma daquelas pessoas simpáticas que sempre se prontificam a carregar meus livros disputou(!) com a moça que estava sentada ao seu lado sobre quem seria mais gentil e carregaria meu pesado fardo. Como havia outras pessoas com suas cargas pesadas em pé ( e espremidas, como é comum naquele horário e acho que em qualquer outro), a moça logo decidiu que iria segurar os livros de outra pessoa e eu deixei os meus com a outra criatura. Os PhDs em transporte coletivo conhecem bem uma regrinha muito importante que eu, infelizmente, até hoje não consegui colocar em prática: nunca seja excessivamente simpático com um estranho (não quis dizer desconhecido) no ônibus! Isso eu sei de cor, mas na hora sempre me escapa aquele sorriso de “mocinha educada” e aí já é tarde demais.... Pois é, o gentil carregador dos meus livros resolveu que deveria sentir pena de mim por carregar tamanho peso. E , de maneira comovente, perguntou-me porque carregar livros tão pesados. Eu bem que podia ter dado uma das minhas respostas rápidas, curtas e grossas, mas o meu lado de “mocinha educada” prevaleceu e eu lhe dei alguma dessas respostas prontas, daquelas se dá a qualquer desconhecido simpático de ônibus. Mas ele não se contentou e resolveu questionar mais: quis saber qual era meu curso, minha faculdade e até em qual pré-vestibular eu havia estudado! Meu instinto alarmista logo começou a deduzir que aquele era um perigoso bandido, que planejava me seqüestrar e eu estava facilitando demais as coisas ao fornecer tantas informações. Ele me parabenizou por ter passado num vestibular tão concorrido e seguiu com uma séria de comentários sobre um cursinho que ele fizera anos atrás, vangloriou-se dizendo ser uma pessoa batalhadora e disse mais alguma coisas das quais não me lembro e que, aliás, não entendi bulhufas (já ouviu falar em “sorria e concorde”? Pois é...) Logo, mudei a hipótese: ele era um bêbado, desses que adoram pegar o mesmo ônibus que eu. Ou era apenas uma pessoa (extremamente) carente querendo um pouco de atenção. Ou talvez, apenas um louco. Milhões de hipóteses eu formulei, e cada uma me assustava ainda mais! As centenas de pessoas espremidas no mesmo metro quadrado que eu ouviam a conversa, esperando o desfecho. E eu, a cada minuto, ficava mais amedrontada... (chega, ponto. Chega, logo...). A exoftalmia do louco/carente/sequestrador me intrigava...não havia como não pensar, a todo momento, em hipertiroidismo, hipertireoidismo, hipertireoidismo.... Seria eu sequestrada por um portador de um distúrbio metabólico tão interessante? A possibilidade me assustava ainda mais, e ele prosseguia fazendo perguntas e comentários.

Enfim, quando aproximava-se o meu ponto, ele estendeu a mão para mim(O quê é isso, meu Deus? Pedido de esmola?)

-Douglas- ele disse

-Hã?

-Meu nome é Douglas, e o seu?

(Porque é tão difícil inventar um nome numa hora tão própria para tal?)

Felizmente (e eu sempre adorei isso), papai e mamãe decidiram que eu teria um nome composto. E qual o problema em fingir que meu nome é, na verdade, o segundo nome? Nem precisei mentir...

Eu estava prestes a sair correndo... De posse de meus livros, quase descendo do ônibus, ele encerra a conversa:

-Qual o seu telefone? ( se vc conseguir, imagine um exoftálmico lançando um olhar conquistador...)



Alguém merece??? Eu só podia rir, incontrolavelemente... e ele tirou das minhas risadas sua própria conclusão:

-Ela deve ter namorado...



Pois é...eu devia estar mesmo muito assustada pra confundir um flerte(como diria a Ju) com uma tentativa de seqüestro!

Nenhum comentário: