No quarto da frente está Tadeu. Confuso, desorientado. Não se lembra muito bem como veio parar ali. Conta às estudantes uma história, inventa sintomas porque elas insistem em querer saber o que aconteceu. Deixa que elas o examinem da cabeça aos pés. Mas não lhes revela o que se passa na mente e no coração. Há 30 dias está no hospital, mas ainda não recebeu nenhuma visita. Enquanto conversa com as estudantes, chega um senhor que trabalha no hospital, pergunta aos outros leitos os nomes de seus acompanhantes, para anotar no cadastro do hospital. Quando chega a vez de Tadeu, ele diz que não tem acompanhante. Pensa em dizer que está só, que ninguém veio saber o que está acontecendo, que prefere ficar ali mesmo do que ir embora; ali sempre tem algum jovem, tão inexperiente, às vezes inseguro, mas sempre há alguém a perguntar o que sente, como está, se dormiu bem durante a noite. Tadeu chega mesmo a contar a elas a verdade mais dura de sua vida: que perdeu amigos, família, emprego e dignidade em nome do vício. Que estava confuso, perdido, desorientado, bêbado quando foi levado ao hospital. Só não conta que, depois disso, ninguém veio lhe procurar. Nem mesmo sua mãe, nem sua única filha.
No restaurante, o jovem ri da piada contada pela moça à sua frente. Eles passam horas e horas se divertindo, contando histórias, fazendo brincadeiras. Mas ele não conta que há algumas horas pensou que nada disso valia mais a pena. Que já estava cansado de não ter com quem conversar por dias, além dos colegas de trabalho. Não quis dizer a ela, depois de sete meses sem se falarem, que aquele seria apenas mais um encontro de velho amigos da faculdade, mas que depois iriam embora novamente, vários meses se passariam até que se encontrassem novamente, e ele continuaria sua vida, sua rotina, sem família, sem amigos, sem sentido.
A moça cotinua rindo, relembra o velho apelido do rapaz à sua frente, conta histórias sobre sua nova vida, diz a ele que está muito feliz. Só não conta que voltou a morar com os pais, mas eles não a tratam como antes. Depois da separação, teve que se humilhar e voltar à casa dos pais, pois não tinha onde morar. A mãe aceitou a sua volta, não sem antes fazer um olhar que significava "eu não te disse que ele não prestava?", o pai mostrou-se indiferente. E indiferente eles continuaram, já havia três anos. E ela só podia conversar com sua psicóloga, pois os velhos amigos haviam ido embora, sem dar notícias, sem fazer perguntas. E, depois que pagasse a conta, mais um deles iria embora novamente, e talvez se encontrassem novamente em meses, talvez nunca mais. Ela não queria admitir, mas a verdade é que estava só. Só.
(Jeq*)
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