terça-feira, 26 de abril de 2011

Graça me basta (2)

Em plena véspera de prova - não uma prova qualquer, mas uma prova de Neurologia, o que basta pra explicar o nível de desespero e a urgência em estudar, me pego pensando na Graça. Simples assim, mas nem tanto.


É que a graça é assim mesmo, completamente imiscuída no cotidiano, na hora da prova, do sono, da alimentação, da conversa, do choro, da raiva e do medo. E se manifesta por mil maneiras, as melhores delas surpreendentes: um email  repleto de carinho e consolo, uma descoberta estranha no ambulatório , um ônibus estranhamente vazio na volta pra casa pra compensar o sufoco da manhã,um abraço apertado de saudade, um belo poema em homenagem a uma grande poeta. Tenho a suspeita de que a graça é que dá cor à vida, o tom. Mesmo pra quem não a conhece, aceita ou reconhece. Até pra quem não faz idéia de que ela existe, ou pra quem está lendo esse texto e achando tudo desconexo ou uma idéia louca de alguém que não entende nada da vida. Tipo uma música que acabou de tocar, que fala que "eu podia ficar feio, só, perdido...mas com você eu fico muito mais bonito". Acho que essa beleza que nos livra da possibilidade de uma vida sem graça, com perdão do trocadilho, é coisa da graça.


E me faz concordar com certa veemência que, sim, todas as manifestações de arte, justiça, sabedoria, alegria,superação, ciência, trabalho e etc. e tal só se explicam pela graça. Explicam no sentido de justificar, porque entender a graça... ah, isso ninguém é capaz. Ela é apenas revelada, como um segredo, aos corações. É por isso que reafirmo que se manifesta a todos, mas nem sempre é reconhecida como graça.Pode até  ser entendida como qualquer outra coisa, tantas quantas palavras ou expressões cabem num mistério, mas que, no fundo é apenas graça. Maravilhosa graça.


Nessa divagação, lembrei-me de Jonas, que não compreendeu como um ser Todo-Poderoso, bom, puro e tudo mais podia se sujeitar a amar os desprezíveis ninivitas. E o irmão do filho pródigo, na mesma imcompreensão do amor do Pai por quem negligentemente negou sua origem . 
Vamos combinar, dizer que a graça é injusta é completamente racional. Como pensar diferente, se nossa visão sócio-cultural é da meritocracia, se tanto pregamos contra o assistencialismo demagógico? E como é que vem Alguém presentear imerecidamente seres que só o mal sabem fazer, indignos de receberem o mesmo que outros tantos que tanto batalham pelo bem, que buscam amar, que estudam pra prova de Neuro enquanto outros ficam em estranhas divagações? Injusto. Injusto. Daquele tipo de injustiça que só mesmo quem ama.


A  miss profile das redes sociais começou a desvendar o mistério quando disse que "viver ultrapassa qualquer entendimento". E não vivemos senão pela graça? Daí que não é absurdo dizer que não se pode entender a vida porque a vida também é obra do mistério da graça. E ainda aconselha: "renda-se, como eu me rendi". Sim, o jeito é  render-se: mistérios pedem rendição.Um mistério que, por enquanto, conhecemos apenas em parte. Por enquanto.



Pela graça, nos basta viver, nos mover e existir.
Entendê-la? Não, obrigada. 
Graça me basta.

4 comentários:

Ingrid disse...

Belo texto, tem uma leveza e verdade divinas, literalmente.

Natalia disse...

Senti a graça quando li. Mto obrigada por proporcionar esse tempo de reflexão e constatação da graça q nos basta!

Mto preciosa a verdade leve, doce e simples de Cristo no seu texto =]

Um Blog com Meu Nome disse...

Tuas palavras me encheram de Graça.
Lindo texto, xará querida. Adoro essas divagações.
E até para entender a Graça é preciso de Graça. Mas pra que ficar buscando entendê-la se o melhor de tudo é vivê-la.
Sim, a Graça nos basta.
Um beijo

Jeq* disse...

"A gente só sabe bem aquilo que não entende." (João Guimarães Rosa)