terça-feira, 10 de maio de 2011

Demasiado humano

Agora, José
(Adélia Prado)


É teu destino, ó José,
a esta hora da tarde,
se encostar na parede,
as mãos para trás.


Teu paletó abotoado
de outro frio te aguarda,
enfeita com três botões
tua paciência dura.


A mulher que tens, tão histérica,
tão histórica, desanima.


Mas, ó José, o que fazer?
Passeias no quarteirão
o teu passeio maneiro
e olhas assim e pensas,
o modo de olhar tão pálido.


Por improvável não conta
o que tu sentes, José?


O que te salva da vida
é a vida mesma, ó José,
e o que sobre ela está escrito
a rogo de tua fé:


"No meio do caminho tinha uma pedra",
"Tu és pedra e sobre esta pedra",
a pedra,ó José, a pedra.
Resiste, ó Jose. Deita, José,
dorme com tua mulher,
gira a aldraba de ferro pesadíssima.


O reino do céu é semelhante a um homem,
como você, José.







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