sábado, 25 de fevereiro de 2012

concentrando o cheiro do longe

Espera é ter ovos, trigo, açúcar, sal, óleo e fermento à mão e não poder comer o pão agora, simplesmente porque o fermento ainda não levedou a massa e a lenha ainda não está quente o suficiente. Para certas coisas, o tempo parece não passar. 
Às vezes, dá vontade de comer pão asmo.
Espera é viver feliz enquanto o pão não fermenta e aproveitar para limpar a casa, esvaziar as gavetas de coisas antigas e sem mais importância, abrir as janelas, colocar o lixo para fora, trocar os panos-de-prato da cozinha, regar as plantinhas do jardim da sacada, levantar o sofá e tirar os ciscos debaixo, trocar as fotos dos painéis, ler uma página de um livro bom, tagarelar com o vizinho de janela, parar um segundo para contemplar o aguaceiro que cai lá fora e vê-lo arrancar da terra o “cheiro de chuva”. O mesmo cheiro que revelará o novo broto da samambaia já dada por quase morta.
A espera vai virando esperança e esperar vai virando esperançar. Quando nos dermos conta, o pão terá crescido, terá sido assado e o poderemos saborear com a casa limpa, a janela limpa, o chão limpo, com a chuva chovendo, as samambaias brotando… 
(Áquila Mazzinguy,em "Contemplações da Esperança 1")




 (

2 comentários:

Natalia Cortelette disse...

Obg amiga por trazer um texto, uma música, que separados e juntos traduzem o meu momento de pós-ipl e de pré-vida. :)

Jeq* disse...

Vi o texto e a música aleatoriamente em dias próximos, achei que tinham uma correlação interessante e resolvi publicá-los juntos.
Agora, com seu comentário, fazem ainda mais sentido.
Obrigada por acrescentar beleza ao que já é tão belo.
:)