quinta-feira, 26 de março de 2009

Eternidade

Hoje faz um ano que você se foi, minha bonitinha. Faz um ano que voltei pra casa chorando, pensando que você estava mal, no hospital. Faz um ano em que descobri que não, você não estava no hospital: você já tinha ido, já não estava mais entre nós.
Ah, minha lindinha! Mas ainda a amo da mesma maneira que há um ano atrás. Ainda sinto a mesma saudade que senti quando soube que não mais veria seu rosto. Vontade de chegar na casa e encontrar você, te dar um abraço e um beijo e ver uma expressão de espanto em seu olhar e a pergunta: "Quem é você?" E responder: "Ah, a senhora sabe muito bem! Pode se lembrar". E seu rosto lindo se iluminando num sorriso ao me reconhecer ou, às vezes, apenas um sorriso simples de quem não consegue se lembrar.

Vontade de ouvi-la contando as histórias tão bonitas e sofridas da sua vida, e repeti-las, voltar ao início, esquecer da sequência, misturar os fatos... vontade de ouvir a sua voz tão suave, afinada num contralto de fazer inveja, cantando músicas de esperança junto comigo como foi da última vez que nos vimos. Vontade de rir das suas gracinhas como se fosse uma criança, de provocá-la só pra ver você "brigar" com seu jeito manso, de brincar com você( seu dedinho procurando o umbigo), de ficar longo tempo à mesa esperando você terminar de almoçar e dizer a cada minuto: "comida sem sal", "me dá mais feijão" e as clássicas: "já comeu , menina?" e "toma café, toma!"

Ah, bonitinha da minha vida! Nunca me importei em fazer as coisas para impressioná-la- até porque você não se lembraria minutos depois. Você foi a maior experiência de amor incondicional que já tive- amar sem esperar nada em troca. Assim como este texto,que você não vai ler, e não leria mesmo se estivesse aqui- não faço para que você saiba, não me importo se você se lembra ou não de mim. Mas você é uma das criaturas mais belas que já passaram por aqui, a que me ensinou que grandes pessoas não são aquelas muito importantes ou revolucionárias, não são as que fazem atos grandiosos e nem as que dizem palavras eloquentes. Ser grande, de verdade, é fazer a diferença em atos pequenos que talvez ninguém vá perceber, é se doar em amor, é ser tudo mesmo sendo nada. É ser linda, é ser você.

"Passarinhos, belas flores querem me encantar... são vãos terrestres esplendores, mas contemplo o meu lar."
Qualquer dia, e nem demora, a gente se encontra.

Te amarei enquanto viver e, depois, por toda a eternidade...

(Jeq*)

sexta-feira, 13 de março de 2009

É verdade.

A verdade

A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
cnforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 3 de março de 2009

Pérolas

Além das óbvias, as férias dão uma vantagem especial: a gente tira um tempo pra arrumar as bagunças e acaba sempre encontrando umas pérolas!
Aí vai uma das que encontrei:

Ei, você! Porque está parado?
Tão acomodado, despreocupado...
Não sabe que enquanto dorme
Está sendo manipulado?
Desde os primórdios da História da humanidade
Esta é uma inegável verdade
A organização só nasceu pra garantir a propriedade
E hierarquizar a sociedade
O tempo passou... algo mudou?
Por acaso alguém se importou?
E aos poucos veio o imperialismo
Mandou, mudou, se instalou...
Muito mais que um modo de governo ou domínio
Se tornou tão comum, tão banal, tão normal
E você aceitou, você até gostou!
Porque é que você se acostumou?
Não sabe você que o plano não era esse?
O plano perfeito, agradável e bom
A liberdade era a idéia original
A igualdade, essa é a verdade.
Mas sempre há alguém que não está satisfeito
E insiste na idéia de exploração
E o Criador, com tristeza no coração
Abriu mão quando sua criação
Escolheu ser guiado pela manipulação
E o mal, antes crônico, se tornou pandemia
UItrapassou limites que não deveria
E o homem abraçou a mediocridade
E se deixou levar à escuridão.
Saia do lugar que limita sua visão!
Abra seus olhos e sua mente
Chega de apatia e acomodação!
Por que o imperialismo, manipulação e dominação ideológica?
O grito
profundo: "Está consumado!"
É a porta da sua liberdade
Mas se você prefere a mediocridade...



P.S.: quem já foi aluno de pré-vestibular, inclusive com o sentimento característico, que entenda!

P.S.2: tô pra fazer uma homenagem pro grande Guimarães Rosa, prometo! Espero não demorar...

(Jeq*)