segunda-feira, 20 de junho de 2011

Cais



Por que me amarro neste cais?
Por que me escondo no porão?
Se o mar aberto é muito mais
E o céu aberto imensidão
Nem sei...

Por que me amarro ao verbo ter?
Por que me escondo tanto assim
Nas aparências do poder
E me encolho dentro em mim?
Se o unigênito de Deus
De seu poder se esvaziou
Mas no barquinho para os seus
O mar e o vento aquietou

Já sei!
A quem criou os céus e o mar
A quem seu próprio Filho deu
Meu coração vou entregar
Navegar, voar, ser seu...



(Nós desatados, por Wolodymir Boruszewski)

domingo, 19 de junho de 2011



Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer! 

(Fernando Pessoa)




Minha vontade nesse domingo.
Fico só na vontade e volto à realidade de final de período...

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sonho Brasileiro




nada deve parecer natural 
nada deve parecer impossível de mudar.
(Bertolt Brecht)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Encantos em contos


Magia, fantasia, ficção, tudo nos encanta. 
Dêem-nos parábolas e compreenderemos o Reino Eterno. 
(Ricardo Gondim)




Canta, canta sem razão!

Ela canta, pobre ceifeira,
                                                  Julgando-se feliz talvez;
Canta, e ceifa, e a sua voz, cheia
De alegre e anonima viuvez,
Ondula como um canto de ave
No ar limpo como um limiar,
E há curvas no enredo suave
Do som que ela tem a cantar.



Ouvi-la alegra e entristece,
Na sua voz há o campo e a lida,
E canta como se tivesse
Mais razões pra cantar que a vida.



Ah, canta, canta sem razão!
O que em mim sente stá pensando.
Derrama no meu coração
A tua incerta voz ondeando!



Ah, poder ser tu, sendo eu!
Ter a tua alegre inconsciência,
E a consciência disso! 
Ó céu!Ó campo! Ó canção! 

A ciência pesa tanto e a vida é tão breve!
Entrai por mim dentro! 
Tornai minha alma a vossa sombra leve!
Depois, levando-me, passai!



("Ela canta, pobre ceifera", Fernado Pessoa)

sábado, 4 de junho de 2011

Palavras...

Muitas vezes, uma avaliação mais simplória, feita sobre a palavra,
nos faz pensar ser impossível algo de novo – todas as palavras
já foram ditas – salvo raros neologismos, por vezes até
brilhantes. Posso assim desistir e encerrar por aqui este texto. Mas
isso é um sofisma. Isso só seria verdade se considerássemos a
palavra existindo sem o homem para nortear seus caminhos e sentidos.

Cada boca sabe de sua palavra. A palavra esta sujeita a toda a
mecânica respiratória, ao vibrar das cordas vocais; ao segundo
sentido do canto dos lábios. Todo invólucro humano se expressa
através da palavra ofertada, da palavra jogada, da palavra beijada,
da palavra interrompida ao meio (mas mesmo assim entendida), por conta
de um arrependimento tardio.

Uma mesma palavra pode ter seu sentido alterado na dependência se
proferida revestida pelo vermelho do entardecer do verão ou no calor
entre dois olhos aferventados de ódio.

A palavra goza do paradoxo de ser atemporal e, ao mesmo tempo, ser
sujeita às tempestades do instante. A palavra pode ser verdade, pode
ser mentira; mas geralmente é revestida de sedução, podendo assim
ser classificada como meia-verdade.

Já a palavra, quando escrita, fica a mercê da capacidade de quem a
garimpa, de quem a transfigura em arte: a palavra bem escrita é a
própria arte.

Pois bem, eu saúdo as palavras.

Palavras ... Razão pelas quais eu venho degladiando com minhas
limitações, tentando elaborar algo que realmente me faça sentido.


Jorge Elias Neto