domingo, 25 de outubro de 2015

a Esperança

Louvado seja Deus,o Criador
Pois eu sou pó e lama
Sou vento,folha solta,areia
Mas Ele me faz barro,me refaz vaso
Me dá raízes,frutos,água
Me torna árvore junto a ribeiros

Louvado seja Deus,meu Redentor
Pois sou caminhante vagando a esmo
Sou pobre,cego,surdo e nu
Mas ele se faz guia
Mostra aos meus pés o caminho
E chego à Rocha em segurança

Louvado seja Deus,meu Consolador
Pois me confundo e perco a rota
No escuro vagueio sob incertos sentimentos
Mas se em desespero,espero
Ele torna em luz concreta a mais densa e abstrata treva
E enfim vejo: resplandecente Esperança

(23 outubro/2015)

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

a maior riqueza do homem é a sua incompletude



Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito. 

Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas, 
que puxa válvulas, que olha o relógio, 
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis, 
que vê a uva etc. etc. 

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

Manoel de Barros


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Procura da Poesia

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

(Carlos Drummond de Andrade - trecho de "Procura da Poesia")


Pra Marília .E pra Ana.
Que Deus e a criatividade nos permitam sobreviver às mudanças da vida continuando amigas. E poetas do cotidiano. Aos 17,21,25,30,...

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Além do (boja)Dor

Nota mental:

"É preciso muita coragem e grandeza existencial para reconhecer que não se tem talento para determinada vocação e, suando e sangrando, trilhar o caminho de (re)encontrar a missão de Deus para a vida. Só quando nos vemos 'libertos do que não somos, descobrimos que o nosso chamado capacita-nos a descobrir o que somos'."


segunda-feira, 23 de março de 2015

Sentido

"A uns,Deus os quer doentes,


Não escrevo e nem adoeço.
O que queres de mim?

Doença tem fisiopatologia,epidemiologia,diagnóstico,tratamento.
Ás vezes,até cura tem.

Escrita tem quem leia,tem quem sinta,tem quem traduza
Algumas vezes tem utilidade prática. Noutras vezes, só a beleza. Mas sempre tem.

E eu,que não adoeço nem escrevo,faço o quê?

Eu que cheguei na encruzilhada,ou no fim do caminho. Eu que a vida inteira fui chegando até aqui e nunca chegava. E agora que voltei e cheguei,o que faço? Não adoeço. Não escrevo mais. Até o que já sou não é.

Me implora amor,Deus. Me implora, mundo.
Implora, que eu volto a ser.
Implora, que eu serei.
Implora,que eu sei que sou.


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Viver é muito perigoso (16)

 "Da janela do meu quarto do Hospital Emílio Ribas, na avenida Doutor Arnaldo, em São Paulo, eu via as pessoas caminhando, de bermudas, tomando ônibus, entrando num, e eu dizia: meu Deus, que luxo que é viver, que coisa maravilhosa que é poder andar na rua, como a vida é preciosa e frágil. "

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Amor e Seu Tempo

- Carlos Drummond de Andrade-

Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe

Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. Amor começa tarde.

#D270

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Afetos. O passar do tempo.

Após viver mais um ano,é inevitável pensar na vida que foi até agora e na que virá,e o contentamento maior é lembrar que "o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando..." 
E embora seja certo o dia de ser terminada- O que começa uma boa obra sempre a completa de maneira surpreendente - o processo de ir e ver, ser e deixar de ser, mudar e ser agente de mudança, amadurecer e retroceder na crise é a beleza do agora.
E do que foi,e também do que virá, o que fica são os afetos. Aquilo que me afeta é o que lembro. Aquilo que me afeta é que vai moldando quem sou. Grata a todos o que me afetam de forma sincera. A Graça da vida é saber que ainda não estou terminada, os afetos vão me refazendo todo dia,ano após ano. Que o resultado final seja bom!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Relembrando:

"Eu não vim a este mundo para atender às suas expectativas e nem você veio a este mundo para atender às minhas. 
Eu sou eu, você é você. Se nos encontrarmos, é lindo; se não, nada há a fazer."
Fritz Perls

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Metapoema

~Releitura de um poema não leviano~


Quem está perto,nem sempre perto está
Quem está longe,nem sempre perto está
Longe é longe
Perto é longe (também)
Longe-longe é um aperto
Perto-perto é ilusão

A vida segue reescrevendo
surpreendendo inversões
eliminando rimas

A arte nem sempre prevê a vida

Viver é muito.É perigoso.
Viver é muito,muito perigoso.