domingo, 26 de fevereiro de 2012

Mesmo quando não há.

Estremeço. Como não ter Deus?! Com Deus existindo, tudo dá esperança: sempre um milagre é possível, o mundo se resolve. Mas, se não tem Deus, há-de a gente perdidos no vai-vem, e a vida é burra. É o aberto perigo das grandes e pequenas horas, não se podendo facilitar - é todos contra os acasos. Tendo Deus, é menos grave se descuidar um pouquinho, pois, no fim, dá certo. Mas, se não tem Deus, então, a gente não tem licença de coisa nenhuma! Porque existe dor. E a vida do homem está presa encantoada (...). Dor não dói até em criancinhas e bichos, e nos doidos - não dói sem precisar de se ter razão nem conhecimento?
(...)

Deus existe mesmo quando não há.


(João Guimarães Rosa, em "Grande Sertão: Veredas")



sábado, 25 de fevereiro de 2012

concentrando o cheiro do longe

Espera é ter ovos, trigo, açúcar, sal, óleo e fermento à mão e não poder comer o pão agora, simplesmente porque o fermento ainda não levedou a massa e a lenha ainda não está quente o suficiente. Para certas coisas, o tempo parece não passar. 
Às vezes, dá vontade de comer pão asmo.
Espera é viver feliz enquanto o pão não fermenta e aproveitar para limpar a casa, esvaziar as gavetas de coisas antigas e sem mais importância, abrir as janelas, colocar o lixo para fora, trocar os panos-de-prato da cozinha, regar as plantinhas do jardim da sacada, levantar o sofá e tirar os ciscos debaixo, trocar as fotos dos painéis, ler uma página de um livro bom, tagarelar com o vizinho de janela, parar um segundo para contemplar o aguaceiro que cai lá fora e vê-lo arrancar da terra o “cheiro de chuva”. O mesmo cheiro que revelará o novo broto da samambaia já dada por quase morta.
A espera vai virando esperança e esperar vai virando esperançar. Quando nos dermos conta, o pão terá crescido, terá sido assado e o poderemos saborear com a casa limpa, a janela limpa, o chão limpo, com a chuva chovendo, as samambaias brotando… 
(Áquila Mazzinguy,em "Contemplações da Esperança 1")




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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Consolo.

Parâmetro
(Adélia Prado)

Deus é mais belo que eu.

E não é jovem.

Isto sim, é consolo.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Amor cotidiano




Que Ele me mostre durante o dia o seu amor
E assim de noite eu cantarei uma canção
Uma oração ao Deus que me dá vida
(Sl 42,8)






domingo, 19 de fevereiro de 2012

E a dor, José?

A minha dor eu sei resolver. Ainda que seja a custo alto, sei resolver. Pode ser com um calmante, um trabalho físico, um desabafo. Pode ser mexendo na horta, organizando as coisas no armário, limpando a casa, xingando Deus;eu sei resolver. Ainda que demore, resolvo.
O que não sei resolver é a dor do outro. Fico mudo, meu braço sobra,minha mão falta, minha boca treme algum vento sem força.
(...)
A dor do outro me isola. Tento uma brecha para falar, mas sinto-me intruso,incômodo, solteiro.Como uma casa em reforma.
(...)
Toda dor só é compreensível no idioma da dor. Quem está de fora não entende,não tem razão,não alcança sentido. A dor não busca conselhos; a dor busca a pele para colocar por cima, busca cicatrizar a ferrugem e a maresia.
(Carpinejar, de novo)




A dor do outro me paralisa tanto que até as palavras me faltam. Mas ainda bem que existem poetas por aí, dos quais posso roubar palavras e até os sentimentos. Aonde quer que eu vá, eu descubro que um poeta esteve lá antes de mim (Freud).
Mas, por mais que a poesia seja minha voz, ela pouco ajuda na função de  braços. E agora, José?


Em meio à  sensação de certeza, conhecimento, potência... quando você se sente seguro por ter sido marcado pela Verdade que esteve aqui, e descoberto mil pontos de contato e etc. e tal...a vida surpreende. Sempre surpreende, José.
Afinal, a vida real não é uma equação, apesar de ser repleta de incógnitas.


Mas me diga, José... e agora? 
O que fazer com a moça bonita, vítima de violência sexual, que lhe aparece no sábado de Carnaval?
O que fazer ao presenciar  um "aborto legal", quando você parece sofrer mais que a "mãe ilegal"?
O que fazer com aqueles que estão esperando apenas pelo dia da morte, quando não há mais nada a fazer?
O que fazer com quem não sabe o que fazer, e você não tem tempo (ou paciência...) pra ensinar?
O que fazer?
Me responda, José...

A minha dor eu resolvo. A dor do outro eu não sei aonde colocar, onde me colocar.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

(In)suportável

‎"Parcele a saudade. Ela é insuportável quando deixamos para lembrar tudo num só dia." 
(Carpinejar)

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Graça me basta (6)

O que darei eu ao meu Senhor por tudo que me tem feito?
O que darei a Ele pelos amigos, pela família, pela vida, pelos aprendizados...?
O que darei a Ele por estar me ensinando a ver, crer, entender, viver...ser?


#Jesus&meus20epoucosanos



domingo, 5 de fevereiro de 2012

Ai que saudade!

"quando se separarem de um amigo, não se angustiem; pois aquilo que vocês mais amam nele pode aclarar-se em sua ausência, assim como o alpinista vislumbra melhor a montanha da planície." 
(Khalil Gibran)


Nostalgia pós-IPL infinda...