Dia desses, flagrei-me triste de tão solto. Faz tempo que me incomoda uma leveza ruim. Sinto meus afetos pulverizados por todas as minhas partidas. Não sei o que é viver mais que cinco anos em um mesmo lugar.

Invejo os velhos amigos. Meus velhos já não são tão amigos. Boquiaberto e silente, observo o desconhecido mundo daqueles que convivem desde há muito.
Nem tenho sotaque, nem grandes e antigas amizades, nem velhas memórias da mesma história, nem o silêncio da intimidade que prescinde das palavras e nem as conquistas que demandam tempo.

O tempo? Nada dele sei. Sei do espaço. Percorro tantos quanto fôlego precisar para do tempo fugir.

Não tenho ontem. Tenho somente lugares.

Despedi-me de todos os meus amigos. Sou um Sísifo dos afetos. Ah! Sei tudo de recomeço. Condenei-me a sempre empurrar morro acima minhas novas histórias, amizades e projetos. Quando chego, já estou indo. Se você precisar de conselhos sobre como reiniciar a vida, pergunte-me. Contanto que nada queira saber sobre conclusões. Nada sei sobre os dias seguintes.



Mas sou bom de conversa. Tenho muitas histórias para contar, caso aceite minhas várias e avulsas memórias. Mas por favor, como já combinamos, não me pergunte sobre depois. Toda sequência é para mim uma incógnita.

Sinto-me um Don Juan. Aprendi a seduzir, mas não sei não me despedir. Medo de chegar? Medo de nunca chegar? Medo de chegar aonde realmente quero? Talvez. Tais vezes.



Trechos do texto (mara!) Desenraizamento, por Elienai Jr.
Mas se parece taanto comigo que também é meu.
;)