domingo, 27 de março de 2011

Olhares

"Os nossos olhares incompreensíveis  quando se entrelaçam compreendem o mundo."

(Natália Cortelette, minha amiga tão querida e companheira de jornada)





sexta-feira, 25 de março de 2011

Nosso tempo, nossa geração

A presença de Deus pode também ser percebida nos atos de resistência a todas as forças desumanizantes.






As inspirações de Martin Luther King  nos ajudam a interpretar nossas circunstâncias atuais, particularmente quando ele afirma que as tensões e lutas que vemos não são sem significado. Em 1956, confiando em que a história da luta pela liberdade não era a esmo – pois “o longo arco do universo se curvará em direção à justiça” – ele disse: “Cada vez que há a emergência do novo, nos confrontamos com a recalcitrância do velho. Assim as tensões que testemunhamos no mundo hoje são indicativas do fato de que uma nova ordem mundial está nascendo e uma velha ordem está morrendo.”
Especialmente nos seus últimos anos de vida, King entendeu que a luta na qual se engajara era muito maior que o objetivo da integração racial.
“A tempestade está se formando contra a minoria privilegiada da terra, para a qual não há abrigo no isolamento ou no armamento. A tempestade não se dissipará até que uma distribuição justa dos frutos da terra habilite (os seres humanos) em todo lugar a viverem com dignidade”

(Raimundo Barreto)

sábado, 19 de março de 2011

Eis a questão

É preciso que os médicos estejam conscientes de que eles não são donos do doente, mas servos do doente. Assim, uma das condições essenciais para o exercício da medicina é a humildade.
Por isso a classe médica tem de estar atenta. Os médicos não estão imunes a deformações de caráter

Quem faz o alerta não é um colega médico, mas o escritor Rubem Alves.
É fato que a afirmação soa como lugar-comum, mais uma das afirmativas idealistas – ou realistas? - a respeito do sacerdócio médico, mais ainda se tiver sido proferida por causa de uma decepção pós-atendimento médico, o que realmente ocorreu.
Ainda assim, é possível refletir e encontrar exemplos de que o lugar-comum da afirmação é, exatamente, devido à usualidade de situações que levam, com razão, a críticas e decepções por parte dos pacientes e da sociedade em geral. Basta abrir o jornal de hoje, ou assistir aos telejornais – não se esqueça, obviamente de subtrair o provável sensacionalismo tão habitual quando o protagonista do noticiário é o médico. Ou, alternativamente, fazer uma rápida pesquisa sobre as últimas denúncias feitas ao CRM.

A escolha da medicina como profissão carrega consigo esse porém do constante julgamento alheio. “Já não pertencerás a ti mesmo...”  é um dentre os inúmeros alertas inclusos nos famosos ‘Conselhos de Esculápio’, que também faz questão de lembrar que “ julgar-te-ão não pela tua ciência, mas por casualidades do destino”. Em um dos textos atribuídos a Hipócrates, após discorrer sobre as virtudes apropriadas para o médico que incluem disposição, sensatez, boa reputação e honestidade, o pai da Medicina revela: “pois acontece que essas coisas são tidas por agradáveis pelos doentes, e é preciso ter isso em vista”.
É inegável, pois, a necessidade de obedecer à máxima que afirma que “o médico tem que ter postura e compostura”.

 Fato é que alcançar “postura e compostura” pode ser um exercício voluntário, consciente e metódico. Na contingência da lida médica, é natural e automático assumir disposições que reflitam autoconfiança por vezes exagerada, alta resolutividade como objetivo máximo, e domínio inquestionável das decisões. Repetidas, tais disposições podem gradualmente levar à falta de humildade e, em nível máximo e, consequentemente, mais dificilmente reversível, à trágica dificuldade de julgamento próprio ou de aceitar o julgamento alheio como pretexto para reflexão sobre limitações e busca de mudança. Ainda que haja sentido no explorado jargão “caráter vem de berço”, as “deformações de caráter”, tal como a excelência, também são alcançadas por força do hábito.

Daí a necessidade de sobreavisos ocasionais, como o proferido por Rubem Alves, mesmo que soem como clichês.


No extremo oposto, encontra-se a humildade desmedida ou, caso prefira em outros termos, humilhação consentida , com perdão do exagero e, por isso, resguarde as devidas proporções. Outro escritor, Edilson Pinto, desta vez um colega médico, desabafa:
 “A nossa profissão há muito se encontra cega  (...)Se hoje, somos mal remunerados, trabalhando em condições desumanas, enfrentando uma enxurrada de processos na justiça civil e nos próprios Conselhos Regionais de Medicina (CRM’S), sem termos uma lei ainda que regulamente a profissão médica, etc. etc. tudo isso, é culpa única e exclusivamente nossa.
Um observador atento questionaria, pois, dizem as boas línguas, o médico está entre as primeiras colocações no ranking de “profissionais que mais reclamam”. Lanço o desafio: em seus próximos plantões ou no consultório, ou mesmo durante as aulas, observe seu colega médico ou ‘quase médico’, e até mesmo a si próprio. Reclamam(os) das condições,da remuneração insuficiente, do ambiente de trabalho, do paciente, da carga horária excessiva. Pura retórica, se estiver correta a premissa de que “insatisfações verdadeiras trazem consigo atitudes para modificá-las.” Isso posto, concluir que a classe médica em geral vive em profundo conformismo – substituto adequado para humilhação consentida – é uma questão de lógica. Mais uma vez, subtraia as desnecessárias e infundadas exaltações sensacionalistas e  as dignas exceções bem intencionadas e eficazes e surgirá, em preto-e-branco, o retrato completo: conformismo e resignação em níveis distintos permeando a classe médica. Combinados às indesejáveis “deformidades de caráter” já citadas, podem implicar num resultado antagônico à humildade e extremamente perigoso, especialmente se disseminado em grande escala: arrogância (que, não por acaso, rima com  ignorância, sinônimo de desconhecimento).


O eterno drama de Hamlet, “Ser ou não ser?” não é a questão. (In)felizmente, a solução não se encontra em um dos dois distantes - mas não tão distintos - pólos maniqueístas. O desafio é aprender a transitar entre ambas as possibilidades, alcançando o aclamado equilíbrio entre a inabalável certeza do ser e a anulação opcional do não ser.

Discernimento. Eis aí, portanto, a nossa grande questão. 




(Publicado no jornal RAIO-X, Ed. 8, jan/fev/mar 2011)

sábado, 12 de março de 2011

'Sonho semeando o mundo real'

Se eu pudesse escolher
Um lugar para estar
Um cantinho pra ir
Um ali pra ficar
Agora
Por ora
Escolheria um Vilarejo
(Pra acalmar o coração,lá o mundo tem razão) 
Ou até mesmo
(Sertão: é dentro da gente)







Escolheria alguns livros e música
Apenas livros e alguma música
E sorrir, pensar, sonhar,viver 
Cantando ao som da chuva
Dançando ao som do vento
Abraçando o sol ao dia
Acolhendo o frio da noite



Valorizo o que alcancei e o que mais vier
Não me leve a mal
Convenha apenas
Todo mundo precisa de um momento pra estar
Um cantinho pra ir
Um ali pra ficar
Agora
Por ora
Ou para sempre

Talvez eu esteja perto
Talvez seja bem longe daqui...





-Vem comigo?