quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Eu escolhi ver

"Eu preciso dessa sensação boa, sabe, de encontrar os humanos por aí. Mesmo com tanta falta de humanidade nesses espaços para onde vou. Mas humano é isso tudo: essa crueldade, mas também essa riqueza; essa maldade, mas também esse acolhimento do outro. Quando você não tem nada, mas você ainda tem espaço para acolher alguém dentro de você, é interessante, bem interessante. E aí você se dá conta de que o material não é nada. 

As pessoas não querem ouvir mais. Mas hoje eu já compreendo. Ok, elas não escolheram esse mundo para elas, eu não tenho o direito de forçá-las a um mundo que não querem. Cada um tem a sua escolha. Inclusive, a escolha de dizer: “Eu quero viver nesse outro mundo”. E a alienação também traz felicidade. Você não saber de tudo, você não saber de uma série de penúrias e de desgraças do mundo também te traz um conforto e uma sensação de felicidade de.... Ok, tudo o que eu sei é que meu filho está bem alimentado, dormindo num bercinho bonito, que acabei de reformar o quarto dele com um arquiteto. Está tudo ótimo. Tipo, a alienação também é isso, também traz conforto. Mas eu não escolhi esse lado. Eu escolhi saber, eu escolhi ver."

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI228050-15230,00-MINHAS+RAIZES+SAO+AEREAS.html

sábado, 24 de novembro de 2012

Novas descobertas: a angústia da paz


Oh! a alegria das coisas com aquela mudança

Para onde? Não importa! Desde que não seja

Este eterno mesmo lugar!

Mário Quintana

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Descobri o que (não) é a coisa mais fina do mundo

Ensinamento 

Minha mãe achava estudo 
a coisa mais fina do mundo. 
Não é. 
A coisa mais fina do mundo é o sentimento. 
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, 
ela falou comigo: 
"Coitado, até essa hora no serviço pesado". 
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente. 
Não me falou em amor. 
Essa palavra de luxo.

(Adélia Prado)

domingo, 11 de novembro de 2012

A vida é a arte do encontro (4)

Para minha amiga Marilia

Pássaros-poema
Anjos barbudos
A gaiola ficou vazia:
                           O que é sonho e o que era realidade?

Mudanças (in)visíveis
Ouvidos atentos
A travessia segue em passos firmes:
                                   Vida compartilhada além da imaginação


Palavras
Silêncio
Presença 
Ausência
Saudade.

            Amizade com sabor de eternidade

quarta-feira, 7 de novembro de 2012


Brotou do chão a poesia
na forma de uma plantinha
espigada,perfumosa,
se abrindo toda pra mim:
mensageiro da alegria,
era um pé de alecrim
que dourou a minha vida...


Passou por mim a poesia
na forma de uma gatinha
amarela,tão macia!,
uma bola peludinha
que chegou bem de mansinho...
Batizei-a de Chiquinha,
fiquei com ela pra mim.

Entrou em mim a poesia
na forma de uma canção
que falava de uma rua
com pedrinhas de brilhantes
e de um anjo solitário
que vivia por ali
e roubou meu coração

Gritou no mato a poesia
quando caiu a notinha:
era um concerto de grilos,
tantos astros em seresta,
pois era dia de festa,
e dentro da boca da noite
cantaram um coro sem fim...

Brilhou pra mim a poesia
na forma de uma lua cheia
e de um céu estrelado
despencando no telhado
de zinco avarandado,
pronto para ser pisado
por alguém bem distraído...

Cresceu em mim a poesia
na forma de uma tristeza,
um chorinho derramado
no silêncio da varanda.
Veio vindo,foi chegando
- carregado pelo vento? -
e tomou conta de mim

Caiu do céu a poesia
na forma de uma chuvinha,
pingos grossos, cheiro doce,
que molhou as redondezas,
encharcou os meus cabelos,
inundou a minha vida
e levou minha tristeza.

Sorriu pra mim a poesia
na forma de um amigo
- mão estendida,carinho,
e estar juntos,quietinhos
ou ouvindo, ou contando,
ou rindo e barulhando... -
e abraçou minha vida.

Me arrebatou a poesia
trazida pelas palavras
abrigadas entre as páginas
do livro que alguém lia
e que deixou por ali:
mundo entrando pelos olhos,
enriqueceu minha vida.

Agora,sempre que quero
saber cadê a poesia,
dou um pulo na varanda,
me debruço - e espero:
quem sabe se de repente
ela volta e,simplesmente
vem contar por onde anda...

(Sônia Junqueira, Poesia na varanda - Coleção de Livros Infantis)

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Eu atravesso as coisas - e no meio da travessia não vejo (2)



Eu não sentia nada. Só uma transformação pesável. 
Muita coisa importante falta nome.
(João Guimarães Rosa)