sexta-feira, 29 de abril de 2011

Talvez

Talvez não devesse, não fosse direito ter por causa dele aquele doer, que põe e punge, de dó, desgosto e desengano.

João Guimarães Rosa, o sempre necessário em seu sertão 

terça-feira, 26 de abril de 2011

Graça me basta (2)

Em plena véspera de prova - não uma prova qualquer, mas uma prova de Neurologia, o que basta pra explicar o nível de desespero e a urgência em estudar, me pego pensando na Graça. Simples assim, mas nem tanto.


É que a graça é assim mesmo, completamente imiscuída no cotidiano, na hora da prova, do sono, da alimentação, da conversa, do choro, da raiva e do medo. E se manifesta por mil maneiras, as melhores delas surpreendentes: um email  repleto de carinho e consolo, uma descoberta estranha no ambulatório , um ônibus estranhamente vazio na volta pra casa pra compensar o sufoco da manhã,um abraço apertado de saudade, um belo poema em homenagem a uma grande poeta. Tenho a suspeita de que a graça é que dá cor à vida, o tom. Mesmo pra quem não a conhece, aceita ou reconhece. Até pra quem não faz idéia de que ela existe, ou pra quem está lendo esse texto e achando tudo desconexo ou uma idéia louca de alguém que não entende nada da vida. Tipo uma música que acabou de tocar, que fala que "eu podia ficar feio, só, perdido...mas com você eu fico muito mais bonito". Acho que essa beleza que nos livra da possibilidade de uma vida sem graça, com perdão do trocadilho, é coisa da graça.


E me faz concordar com certa veemência que, sim, todas as manifestações de arte, justiça, sabedoria, alegria,superação, ciência, trabalho e etc. e tal só se explicam pela graça. Explicam no sentido de justificar, porque entender a graça... ah, isso ninguém é capaz. Ela é apenas revelada, como um segredo, aos corações. É por isso que reafirmo que se manifesta a todos, mas nem sempre é reconhecida como graça.Pode até  ser entendida como qualquer outra coisa, tantas quantas palavras ou expressões cabem num mistério, mas que, no fundo é apenas graça. Maravilhosa graça.


Nessa divagação, lembrei-me de Jonas, que não compreendeu como um ser Todo-Poderoso, bom, puro e tudo mais podia se sujeitar a amar os desprezíveis ninivitas. E o irmão do filho pródigo, na mesma imcompreensão do amor do Pai por quem negligentemente negou sua origem . 
Vamos combinar, dizer que a graça é injusta é completamente racional. Como pensar diferente, se nossa visão sócio-cultural é da meritocracia, se tanto pregamos contra o assistencialismo demagógico? E como é que vem Alguém presentear imerecidamente seres que só o mal sabem fazer, indignos de receberem o mesmo que outros tantos que tanto batalham pelo bem, que buscam amar, que estudam pra prova de Neuro enquanto outros ficam em estranhas divagações? Injusto. Injusto. Daquele tipo de injustiça que só mesmo quem ama.


A  miss profile das redes sociais começou a desvendar o mistério quando disse que "viver ultrapassa qualquer entendimento". E não vivemos senão pela graça? Daí que não é absurdo dizer que não se pode entender a vida porque a vida também é obra do mistério da graça. E ainda aconselha: "renda-se, como eu me rendi". Sim, o jeito é  render-se: mistérios pedem rendição.Um mistério que, por enquanto, conhecemos apenas em parte. Por enquanto.



Pela graça, nos basta viver, nos mover e existir.
Entendê-la? Não, obrigada. 
Graça me basta.

Medicina Moderna (2)


Eu sei tudo sobre o que eu estou falando.
Fora isso, não sei nada.


(Millôr, citado oportunamente pelo Dr. P.R.M.V.)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Agora, que fora todos, sentia que começava a poder ser ela mesma.


E por ser ela mesma, podia ser todos em si, ou ninguém mais.




Tinha o poder de opção, e optou por não escolher, 
mas ir sendo o que quisesse no momento do instante agora.
(e, por isso, na maioria das vezes , assustava-se com sua contradição)




Mas não se empolgou de fato:  era apenas um começo. Recomeço. Reconheço.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Do amor e outros riscos

O mandamento bíblico de “amar a si mesmo” não deve ser confundido com expressões piegas do tipo achar-se admirável, apreciar as próprias qualidades, acreditar em si mesmo ou considerar-se uma pessoa extraordinária. 
Na verdade, amar a si mesmo é o oposto disso. Implica aceitar a própria fraqueza e limitação, admitir o pecado que mora dentro deste si mesmo egocêntrico, e mesmo julgando-se uma pessoa detestável, cuidar de si e não desistir de viver nem entregar-se à auto-destruição, evitando a auto-condenação no implacável tribunal da consciência lúcida.




O amor não diz nada a respeito de quem é amado. Diz tudo a respeito de quem ama. O que é incrível nesse mandamento bíblico é que sugere que mesmo pessoas tão desprezíveis como você e eu são capazes de amar. Muito provavelmente porque de alguma forma em alguma dimensão somos alcançados pelo amor do Cristo, e passamos a amar como Cristo amou, não apenas a nós mesmos, mas a todos quantos cruzam nosso caminho.


(Ed René Kivitz)

terça-feira, 19 de abril de 2011

Eternidade (2)


Aqueles que são sábios reluzirão como o brilho do céu, e aqueles que conduzem muitos à justiça serão como as estrelas, para todo o sempre. (Dn 12,3)


Sabe, é estranho, mas a sensação é de que você ainda está aqui, entre nós. No mesmo lugar. Tenho a impressão de que voltarei e você estará esperando, sorrindo, contando suas histórias, fazendo as mesmas perguntas, preocupando-se...vivendo, enfim.
Por mais que haja a impressão de ter vivido experiência semelhante, nunca estamos preparados. Jamais estaremos. A morte é sempre supresa. É sempre arriscado. Dói sempre.


Mas vivendo na Paz, certeza de (re)encontro é inabalável. Que venha a Eternidade, pois minha saudade e meu amor só se conjugam num tempo chamado "para todo o sempre".


Uma morte é preciso mas a vida é infinda...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Há 50 anos....





13 de abril de 1961
Primeiro dia de aula do curso de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo







[Humilde orgulho por fazer parte dessa história]

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A vida é a arte do encontro (3)

Aquele que comigo
Quando eu choro, chora
Aquele que comigo dança
A este jamais direi:
Ora, não me amoles!
Porque se como o ferro com ferro se afia
Afia o homem a seu amigo
Isto hoje te digo:
Podes me amolar
Ó Deus, dá quando que entre eu e meu amigo
Houver atrito a ponto de sair faísca de fogo
Que eu não me desaponte porque este tal
É enviado teu para que eu não fique cego
Porque cego não vê que sem o esmeril
Se perde o fio, o gume
Quem pode perceber, não perde a comunhão, assume
Estende a mão, aceita a pedra de amolar. 

( "Pedra de Amolar", Roberto Diamanso)








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