terça-feira, 26 de junho de 2012

Variações

Uma parte de mim é só vertigem...







...Outra parte, linguagem.

(De  Traduzir-ze, por Ferreira Gullar)

Cada ano a vida pede mais de mim (2)


O que a vida quer nos dar

Daí eu queria ser crescida
Maior que minha estatura
Do tamanho das criadas
Da casa de sinhá

Mas, me vestia ainda
Feito uma menina
Fora do lugar

E me disseram
Vê se espera um pouco
Ainda és muito novo
Pra ganhar

Mas, a vida é bem esperta
 E me ensina a esperar
Sinto, vejo o tempo que passa
Ele me dá a mão e me leva pra passear

Lá a gente conversa
Ele faz uma reza
Vamos descansar

Pois não adianta antecipar
O que a vida quer nos dar

Deixa o tempo passar
É ele que nos leva e faz experiências ganhar
Deixa também as palavras
Elas virão quando eu menos esperar

(Marília Teles Cavalcante)

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Os sem eira nem beira

Estão  à margem, à beira:
Á margem dos direitos, à beira da miséria
Á margem dos hospitais, à beira da morte
Á margem das escolas, à beira da alienação
Á margem do trabalho, à beira da fome


Por outro lado...
Á margem da competitividade, à beira da solidariedade
Á margem da acumulação, à beira da partilha
Á margem do lucro, à beira da gratuidade
Á margem do individualismo, à beira da fraternidade


(Carlos Queiroz)




Há esperança...

sábado, 16 de junho de 2012

Maria, Maria

 “Maria! Seja pura, seja dura, apenas siga o seu caminho, não esqueça. E ela assim o fez, e o menino nasceu e cresceu cheio de sabedoria, graça e ousadia. Ele sempre vivia dizendo: ”Pessoal, no mundo tereis aflições, mas tendes bom ânimo, não desanime e bola prá frente”

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Sina desdobrável

Com licença poética 
(Adélia Prado)
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo.  Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Caminhada Poética

Com Crombie
carreguei no coração canções,
caminhei esperando
Esbarrei na pedra que estava no meio do caminho.
Reparei que lá
As flores enfeitam os vestidos e destinos
Parei no botequim do Noel
Conheci o carinhoso Pixinguinha
Ouvi o Cartola que falou
Sobre as coisas boas da vida
Conheci as canções-poesia do Chico
Me deparei com o menino do Anysio
Partilhei a bagagem com Adélia
Foi o sempre amor
"A poesia é invenção da verdade"
que esteve aqui
No canto dos passarinhos
No caminho para Pasárgada
Onde sou amigo do rei
Trouxe a humildade Coralina
Desnudou a vaidade da Florbela
E acompanhou-me a poeta
Compartilhando a Rosa do Guimarães
e a poesia que dói-me a vida




Obrigada, amiga poeta.
 Muito obrigada.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Doce Mistério da Vida (2)

Até os pássaros, consoante os lugares, vão sendo muito diferentes. Ou são os tempostravessia da gente?
(João Guimarães Rosa)