domingo, 22 de maio de 2011

Sei em Quem tenho crido - ou Fragmentos (3)

Uma fé que para desistir dela é necessário abrir mão do que vale a própria vida é legítima demais para se deixar de insistir nela. Se para imaginar-me sem a minha fé tenho de tornar-me irreconhecível para mim mesmo é porque minha fé precisa resistir, suponho.
(...)
Resisto na fé porque o que penso 'desse' Deus, a quem venho sendo apresentado pela vida afora, ainda não pode ser preterido. Faz mais sentido do que tudo o que mais sentido tem feito em minha vida.
Resisto porque sem esta fé no Cristo da Bíblia não sei quem sou, nem quem são os que mais me amam e por mim são queridos.
(...)
Posso não ter certeza absoluta do que creio, mas creio o suficiente para arriscar. E mesmo que esteja errado quanto às minhas expectativas, estou certo de que não vale a pena prostrar-me diante de outros deuses. Ao lado dos três jovens foi vista uma quarta pessoa, um outro inesperado. Minha esperança é que também ao meu lado esteja um Outro, aquele por quem tenho arriscado tudo que sou.


(Trechos de "Salvos da Perfeição", por Elienai Jr.)

sábado, 21 de maio de 2011

Confissões (ir)relevantes


Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa

 (Rubem Alves)


Ultimamente,tenho pensado muito em relevância. "Pensamentos profundos",pensa você, anônimo leitor.Mas já lhe explico que não, não tanto assim. É tão simples, quase superficial, tão próximo que quase palpável, mas a gente acaba mesmo se esquecendo por causa das tantas outras concretudes necessárias nessa vida. Mais ou menos como aquela que Antoine de Saint Exupéry revelou, que a gente acha sempre tão bonita de citar:




Para início de conversa, encontrei algo que pode, de certa forma, me definir e explicar a necessidade de relevância (calma! já, já chego a explicar essa relevância em si). Ouvi alguém perguntar por aí: "Por que a gente é desse jeito, criando conceito pra tudo?" e eis que a verdade é  que "descobrir o verdadeiro sentido das coisas é querer saber demais". Mas podemos chegar perto. A definição, portanto, seria prágmatica. Que palavra séria e difícil!, você deve ter pensado. Sim, concordo. Mas é a melhor forma de resumir alguém "que considera o valor prático e concreto das coisas". E eu ficaria horas pra conseguir explicar que essa concretude aqui (diferente daquela do primeiro parágrafo)  não é a ausência de abstração (até porque, se já deu pra perceber, minha necessidade de abstratos também é muito grande). Pra resumir, diria que prezo por aquilo que faz diferença, resolve, influi. Ponto.
E -bingo! - tenho descoberto que nem sempre o que faz diferença, resolve,influi, é aquilo que parece - ou aparece. Na maioria das vezes, relega-se aos bastidores, à falta de aplausos, ao periférico, ao esquecido (sim,pasme!).


Ficaríamos horas conversando para que eu lhe desse exemplos disso, mas acho que corro o risco de você se cansar e não querer ler mais...
Então continuo a conversa citando aquela de C.S.Lewis: "o que não é eterno, é eternamente inútil". Começamos, portanto, a entender a tal relevância. Algo um pouco maior do que a nossa (mediocre) necessidade de fazer o que todos fazem ou o que é admirável, mas que, no final das contas,pouco importa. 
Ou me diga, então: o que  importa tanta afetação, tanto auê, tanto oooh! se nos esquecemos de considerar o valor prático? Se não fizer a diferença, não resolver, não influir? Estou com pressa, pressa, pressa. Ousaria neste momento me apropriar da dor da Marla de Queiroz para que você entenda: "eu sou essa gente que se dói inteira porque não vive só na superfície das coisas". E dói. Dói mesmo.
 Vontade de  fazer o que será. De influir, mesmo sem resolver . Fazer diferente, ainda que seja aquele tipo de diferença tão pequena que só pode ser explicada pela metáfora da gota d'água no oceano. Mas  de que adianta  um lindo oceano pintado numa belo quadro de parede, se não se é capaz de ver o sertão, o vale, o deserto em volta?



Durmo esta noite com a relevância de Brecht.



sábado, 14 de maio de 2011

Medicina para todos. Todos?! Todos.

Já faz algum tempo que se percebe uma movimentação condenável no mundo da saúde. De Brasília, do conforto de seus gabinetes de luxo, certos bacharéis de medicina que, na prática, desconhecem o que é ser médico, lançam balões de ensaio pregando um novo modelo de assistência.
Com frequência, vão à mídia falando em formar médicos para o Sistema Único de Saúde. Como se formar profissionais para atender aos cidadãos mais carentes, que dependem basicamente do SUS, fosse diferente de formar médicos para assistir aos mais abastados. Na verdade, só é admissível a existência de um tipo de medicina: a de qualidade. É com esse padrão que ela deve servir ao pobre e ao rico, ao negro e ao branco, ao homem e à mulher, ao católico e ao protestante, enfim, a todos.
O problema é que por trás do tendencioso discurso da formação de médicos para o SUS, os mesmos agentes vão aos poucos minando a medicina brasileira. Quando autorizam a abertura indiscriminada de faculdades médicas, sem adequada condição de ensino, colocam no mercado médicos sem capacitação necessária, representando risco à saúde e à vida dos pacientes.
Outro grave problema diz respeito à rede suplementar. Algumas autoridades fazem vistas grossas aos abusos dos planos de saúde e não tomam qualquer atitude para coibi-los. Dessa forma, usuários têm suas mensalidades sempre reajustadas acima da inflação e muitas vezes veem negadas coberturas para exames, medicamentos, etc. São tão vítimas como os médicos, que, há cerca de dez anos, praticamente não recebem reajustes nos honorários de consultas e procedimentos.
Na relação com os planos de saúde, aliás, só há vítimas. Reclamam os pacientes, os órgãos de defesa do consumidor recebem recordes de queixas, os hospitais denunciam glosas e calotes, e os médicos apontam pressões contra o livre exercício da profissão.  Recente pesquisa Datafolha atesta que oito em cada dez médicos sofrem interferências para reduzir o pedido de exames, de internações e outros procedimentos.
Assim, bons médicos vão se descredenciando dos planos, pois é inaceitável trabalhar sob tais condições. Outra vez, a perda é de qualidade.
Muitos outros ataques à medicina poderiam ser citados aqui. Mas os exemplos já dados são emblemáticos da orquestração recorrente em certos círculos do poder. Querem medicina sem médicos e sem qualidade para quem precisa. Um crime.
Temos de reagir, pois a saúde é direito constitucional dos cidadãos. 
(Antônio Carlos Lopes)

Através do espelho


-Tenho achado as coisas muito diferentes. O mundo está diferente, as pessoas não são as mesmas, os sons me soam como estranhos, o que vejo não se parece com o que via até então.
-Não foi o mundo que mudou. Foi você quem mudou.
-Eu?
-Sim.
-Mas sempre estive no mesmo lugar!
-Odres velhos não comportam vinho novo. Vinho novo deve ser colocado em odres novos, antes que os velhos se rompam.
-...

terça-feira, 10 de maio de 2011

Demasiado humano

Agora, José
(Adélia Prado)


É teu destino, ó José,
a esta hora da tarde,
se encostar na parede,
as mãos para trás.


Teu paletó abotoado
de outro frio te aguarda,
enfeita com três botões
tua paciência dura.


A mulher que tens, tão histérica,
tão histórica, desanima.


Mas, ó José, o que fazer?
Passeias no quarteirão
o teu passeio maneiro
e olhas assim e pensas,
o modo de olhar tão pálido.


Por improvável não conta
o que tu sentes, José?


O que te salva da vida
é a vida mesma, ó José,
e o que sobre ela está escrito
a rogo de tua fé:


"No meio do caminho tinha uma pedra",
"Tu és pedra e sobre esta pedra",
a pedra,ó José, a pedra.
Resiste, ó Jose. Deita, José,
dorme com tua mulher,
gira a aldraba de ferro pesadíssima.


O reino do céu é semelhante a um homem,
como você, José.







domingo, 8 de maio de 2011

Meu anjo


"Tudo o que sou e que sempre desejei ser, eu devo a meu anjo Mãe" 
[Abraham Lincoln]

sábado, 7 de maio de 2011

Procrastinação

Não consigo me mexer
e não paro
Corro
mas não faço
Acordo embebido em cansaço
do que fiz enquanto não faço
e do peso
seja no peito
seja no braço
desse vício desajeitado
que é ser eu
humano e
fraco
que num fim patético,
parvo
sei que corro, suo e faço
Crio músculos e invento o aço
Finjo forte 
e mostro o braço
Faço inferno
e embaraço
E do frio fio 
da guilhotina escapo
Pro gozo curto
De um tempo escasso
Onde as teias do meu fracasso
Me levam de volta
Ao bom e velho descaso


(Autor Desconhecido)



quinta-feira, 5 de maio de 2011


"Quanto de nós guardamos nas sombras, com medo do que os outros possam pensar, de julgamentos, de sermos examinados? O que poderia acontecer se nós deixássemos que a luz nos banhasse, expuséssemos nossas vulnerabilidades, permitíssemos familiaridade para subirmos no palco, mesmo que por um breve momento? 
O que eles veriam?"


--Ridgely Goldsborough





Questionamento do dia. 
Obrigada, friend.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Ele é... (4)



Deus é em mim mais eu mesmo do que eu.
 [Paul Claudel, traduzindo Santo Agostinho]




Ele é apesar de mim...

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Eternidade (3)

É que ela vai sofrer o instante que me falta
Esse instante de amor, de sonho, de esquecimento
E quando chega, a horas mortas, deixa em meu ser uma braçada de lembranças
Que eu desfolho saudoso sobre o corpo embalsamado do eterno ausente.


(Vinicius de Moraes, em "O Olhar para Trás")