terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Two roads 'always' diverge in a yellow wood

Envelhecer (=amadurecer?) é escolher a (in)certeza da segurança.
(In)segurança da certeza?
A normalidade da vida comum,possível,previsível.

É hora de definir ou ampliar as escolhas?
Escolher ou aumentar as possibilidades?
Decidir ou prorrogar (= prolongar)a estrada a seguir?

Eu quero saber o que fazer. Eu quero decidir onde estar. Eu quero fazer o possível.
Eu quero fazer o melhor com o que tenho,sem cansaço,sem mediocridade.

E se algum dia eu sentir saudade da aventura que não vivi?





"Two roads diverged in a yellow wood,. And sorry I could not travel both. And be one traveler, long I stood. And looked down one as far as I could"...
(Robert Frost)



“The world is so much larger than I thoughtI thought we went along paths--but it seems there are no paths. The going itself is the path.”
(C.S. Lewis)

Você chega:


aaaaaaaaaaaaaaaaA melhor parte do meu dia.




aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaA melhor

aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaparte da minha
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaavida.



sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Escassez

Não há música
Não há livros
Não há afetos
Não há sentimentos
Não há sentidos
Só há cansaço

Não há histórias
Não há conversas
Não há abraços
Não há sorrisos
Não há amigos
Só há sucesso

Não há simplicidade
Não há leveza
Não há beleza
Não há linguagem
Não há poesia
Só há funções

Não há tempo
Não há descanso
Não há contemplação
Não há fragilidades
Não há abstratos
Não há subjetivos
Só há concreto

Em tempos de escassez, és o meu encanto cotidiano.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Sexto

A vida é a arte do encontro
No meio do caminho tinha um encontro
Tinha um encontro no meio do caminho
-mas eles andavam distraídos-

A vida é o encontro do caminho
No meio do caminho tinha um reencontro
Tinha um reencontro no meio da vida
-caminho encontrado 'não tem mais volta'-

A vida é a arte do encontro
A vida é o encontro do caminho
Embora haja tanta arte pelo desencontro!

terça-feira, 21 de outubro de 2014

E eu, o que faço?

Tibério ergueu as sobrancelhas negras. O jovem não era um tolo,afinal. E disse:
- (...) Estou preocupado,Lucano,em fazer tudo quanto estiver em meu poder para mitigar o desgosto da família e honrar a memória do tribuno. Não compreendo tua carta. Nomeei-te médico-chefe oficial em Roma, contra o ranger dos dentes dos demais médicos, e tu me pediste que anulasse a tua nomeação. Eutou curioso para saber por quê.

Lucano corou. Não tinha noção de que fosse não só incrível,mas perigoso, aquilo de recusar o que César oferecia. Era como se uma mariposa tivesse desafiado uma águia. E disse,gravemente:
-Roma não precisa de mim. Foi isto que escrevi,majestade. Mas os pobres e os escravizados precisam de meus serviços nas províncias.

Tibério ficou silencioso. Seus olhos estreitaram-se e fixaram-se intensamente no rosto bonito do jovem. Mergulhou em seus pensamentos. Estava diante de algo que não podia compreender,e que lhe parecia louco. Pensou nos velhos filósofos que tinham ordenado que o homem tratasse bondosamente seu próximo. Também os sacerdotes dos templos de Roma exortavam as pessoas a terem bom coração, em nome dos deuses, e serem justas,honestas e misericordiosas. Entretanto,tudo aquilo não passava de palavrório. Nenhum homem mentalmente são acreditava em tal coisa, considerando o que o mundo sempre fora. A boca d eTibério curvou-se num sorriso.
-És médico,cidadão de Roma,filho adotivo de um grande e venerável homem e possuidor de fortuna - disse ele. - As portas dos patrícios e dos augustais estão abertas para ti. O que te ofereci foi apenas o limiar. E ainda assim,abandonarias tudo isso pela disposição de tratar de pobres, mendigos, e escravos sem valor?
Lucano respondeu:
-Sim,pois tudo o mais nada significa para mim.
-Por quê?
Lucano tornou a corar:
-Porque,de outra maneira,minha vida não teria sentido.

Tibério franziu as sobrancelhas. Que sentido havia na vida,a não ser poder, fortuna e posição? Refletiu em sua própria vida e suas feições estreitas revelaram dor involuntária.
(...)

Fixou os olhos em Lucano,que lhe falara como um menino de escola em significado da vida!
-A vida deve ter um significado? - indagou ele. - Mesmo os deuses não deram ao homem um sentido para sua existência.
-Sim,majestade, isso é verdade - respondeu Lucano, o rosto endurecendo-se. - Mas podemos dar às nossas próprias vidas alguma significação. A que dei à minha foi a de aliviar a dor e o sofrimento, salvar os moribundos,evitar a intromissão da morte.
-Com que propósito? - indagou Tibério. - A morte é fado comum a todos. Assim como a dor, seja do corpo ou do espírito. E que valem os pobres e os escravos,também?
-São homens - disse Lucano. - É verdade que dor e morte são inevitáveis. Mas a dor pode ser aplacada frequentemente e a morte pode se tornar menos desconfortável,ou ser adiada. Quem pode olhar o mundo dos homens sem sentir piedade e sem desejar confortá-lo?

trechos de "Médico e homens e de almas", capítulo 27

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Encantada


O calor do sol no meu dorso é como seu abraço acolhedor ao redor de mim
O azul infinito do mar, como seu olhar profundo e fascinante onde me perco
O som das ondas sobre as rochas, como sua voz firme e suave que me inunda de paz e segurança
O vento inesperado e suave, como seu beijo em meus lábios: afago e arrepio

Nesse lugar que parece paraíso, de súbito entendo tudo o que mais desejo:
o aconchego da sua presença e a paz do silêncio

Há sob o céu beleza maior?


Praia das Encantadas, Ilha do Mel
09 de outubro de 2014.

Oração

Teu olhar penetra nos recônditos da alma
Perscruta os tortuosos caminhos do interior
Vê o que não vejo,o que não sei
Vê o que está escondido,guardado,ignorado
Teu olhar traz luz ao depósito escuro de sentimentos
Ilumina o sótão das intenções,desejos e segredos
Expõe as carências, as faltas e os erros
Descobre as virtudes, as peculiaridades e os potenciais
Teu olhar se demora sobre a profundidade
Adentra com justiça e leveza a superfície densa
Invade a falsa embalagem preservada com esforço
Teu olhar desconcerta a certeza da superficialidade, desconstrói o padrão onde está contido o desconhecido
Teu olhar confunde o ceticismo,as teorias,as razões
Teu olhar traz luz e ordem
Quero ver a mim,ao outro, ao mundo
Através do Teu olhar

*inspirado em 2 Samuel 16:7b

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Raio de Lua

A noite é quente
Há pressa
A distância
A incerteza
O plantão
As demandas
Há dúvida
As crises
O medo
O frio


 Há certeza: raio de lua




quinta-feira, 31 de julho de 2014

Viver é muito perigoso (15)

Viver é muito perigoso.
Morrer,também.
Tão triste quanto a morte - ou mais ainda- é a forma como se morre. A forma como se escolhe morrer, quando se decide anular os perigos da vida e o convívio diário com os riscos e dar rumo a própria existência.
Ao que se foi, que nos perdoe, se o que faltou foi amor. Que a paz que em vida tanto buscava seja,se possível,encontrada em outro lugar (ainda mais) longe de nós.
Aos que ficamos, que conforto divino haja. E algum lampejo de compreensão do que é incompreensível.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Lampejos de lu(cide)z

O que precisa nascer
tem sua raiz em chão de casa velha.
À sua necessidade o piso cede,
estalam rachaduras nas paredes,
os caixões de janela se desprendem.
O que precisa nascer
aparece no sonho buscando frinchas no teto,
réstias de luz e ar.
Sei muito bem do que este sonho fala
e a quem pode me dar
peço coragem.


(Adélia Prado,"Alvará de Demolição")




Aquilo que eu ouso
Não é o que quero
Eu quero o repouso
Do que não espero.

Não quero o que tenho
Pelo que custou
Não sei de onde venho
Sei para onde vou.

(Vinicius de Moraes, "Anfiguri")




(Amém).

domingo, 6 de julho de 2014

Domingo

Em meio ao silêncio
Paz incompleta:

Não me vieram ver
O sol que aquece meu corpo
O mar que conforta minha mente
E o sorriso que ilumina minha alma

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Encontros: encanto.

As vezes, é o paciente que cura o médico...
(Raquel Bandeira)



O alma nua

enquanto lá fora
as buzinas ditam os ritmos dos passos e,
nenhuma flor sobre o aslfato é observada
fico aqui
contemplado com as cores do amor
e sua deliciosa alma nua.

(Jurandir Barbosa)

domingo, 11 de maio de 2014

A coisa mais fina do mundo é o sentimento

Você vai rir se lhe disser que estou cheio de flor e passarinho... Que nada do que amei na vida se acabou: e mal consigo andar tanto isso pesa.
(Ferreira Gullar)

domingo, 27 de abril de 2014

A poesia me salvará (2)

Toda compreensão é poesia
clarão inaugural que névoa densa
faz parecer velados diamantes.
Em pequenos bocados,
como quem dá comida a criancinhas,
a beleza retém seu vórtice.
São águas de compaixão
e eu sobrevivo.


(Esplendores, Adélia Prado)

terça-feira, 15 de abril de 2014

bom mesmo é o mar

(De uma conversa 'não leviana" sobre samba, distâncias e mar)

quem está longe mais perto está quem está perto, nem sempre perto está uns perto de longe inundam o coração uns longe de perto nem na poesia estão longe é perto perto é longe longe-longe é um aperto perto-perto é ilusão a alma percebe se põe a sambar confunde a distância quando olha pro mar bom mesmo é ter o mar...

(Com Marília)

domingo, 6 de abril de 2014

*

I don't know exactly why - maybe the weather, the friendly people, the views, the nature, the culture, the multicolor beauty, that sea among that mountains - but in some moments I felt like home.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas

Ele voltou. Calmo,sereno e tranquilo.
Chamavam-no Divino,os mais confusos. Espírito,os mais íntimos.

Deixou-me chamá-lo Poeta.
Vi seu olhar terno e o convite,sussurrado: "caminhemos juntos novamente. Sem rumo,sem pressa. Eu  a guio..."


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

você está tão longe
que às vezes penso 
    que nem existo

      nem fale em amor
que amor é isto

(Leminski)

domingo, 26 de janeiro de 2014

A misericórdia de Deus é esdrúxula,
o mistério,avassalador.
Por insondável razão não sou eu a prisioneira.
Minha compaixão é tal que não pode ser minha.
Quem inventou os corações
se apodera do meu para amar este pobre.
(trecho de "O ditador na prisão",de Adélia Prado)





Não há culpados para a dor que eu sinto.
É Ele,Deus,quem me dói pedindo amor
como se fora eu Sua mãe e O rejeitasse.
Se me ajudar um remédio a respirar melhor,
obteremos clemência,Ele e eu.
Jungidos como estamos em formidável parelha,
enquanto ele não dorme eu não descanso.
("Consanguíneos", Adélia)

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Sempiterno

Queria fazer um poema que descrevesse a vida e o que sinto quando penso nela agora.
A sensação real de certeza das coisas que,sem tristeza, foram perdidas.
Aquilo que importava e já não importa mais. Aquilo que parecia ser e que já não é.
Mas,sobretudo,aquilo que eu sempre fui e sempre serei: o detalhe,a pequenez, a despretensão,distração,’desambição’,desinformação.


E entre as lembranças da vida,você.
Lembro o que mudou,o que se foi e o que poderia ter sido mas não foi. 
Mais surpreendente, o que não se vai,não se foi,permanece . 
Que não é intenso nem incerto: é perene,agradável e independente. Que,talvez,algum dia se torne o que era e já não mais será. Mas que ainda anda parecendo mais com quem sou e quem sabe,sempre serei. Sem pretensão. Distração. ‘Desambição’. Desinformação. Que,assim como não sei fazer poema,não sei um nome pra dar.

Mas não é bonito isso?