sábado, 4 de junho de 2011

Palavras...

Muitas vezes, uma avaliação mais simplória, feita sobre a palavra,
nos faz pensar ser impossível algo de novo – todas as palavras
já foram ditas – salvo raros neologismos, por vezes até
brilhantes. Posso assim desistir e encerrar por aqui este texto. Mas
isso é um sofisma. Isso só seria verdade se considerássemos a
palavra existindo sem o homem para nortear seus caminhos e sentidos.

Cada boca sabe de sua palavra. A palavra esta sujeita a toda a
mecânica respiratória, ao vibrar das cordas vocais; ao segundo
sentido do canto dos lábios. Todo invólucro humano se expressa
através da palavra ofertada, da palavra jogada, da palavra beijada,
da palavra interrompida ao meio (mas mesmo assim entendida), por conta
de um arrependimento tardio.

Uma mesma palavra pode ter seu sentido alterado na dependência se
proferida revestida pelo vermelho do entardecer do verão ou no calor
entre dois olhos aferventados de ódio.

A palavra goza do paradoxo de ser atemporal e, ao mesmo tempo, ser
sujeita às tempestades do instante. A palavra pode ser verdade, pode
ser mentira; mas geralmente é revestida de sedução, podendo assim
ser classificada como meia-verdade.

Já a palavra, quando escrita, fica a mercê da capacidade de quem a
garimpa, de quem a transfigura em arte: a palavra bem escrita é a
própria arte.

Pois bem, eu saúdo as palavras.

Palavras ... Razão pelas quais eu venho degladiando com minhas
limitações, tentando elaborar algo que realmente me faça sentido.


Jorge Elias Neto

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